A CUMPLICIDADE E A VERDADE

05/05/2013 20:32

ROMÉRIO GASPAR SCHRAMMEL*

Os cidadãos honestos assistem a mais uma ação da Polícia Federal: Operação Concutare. Já não sei quantas ações têm sido feitas nestes últimos anos, também não sei se elas têm atingido resultados dignos de uma nação que se clama democrática. Pelas notícias, muitas são méritos de bons advogados. A verdade é que já não durmo em meio a tudo que acontece ao meu redor. Tenho percebido uma falta de verdade e cumplicidade em praticamente tudo. Isso se percebe em ações da alta política, passando pelo futebol, até nos meandros de nossas pequenas diretorias em sociedades e comunidades religiosas. Tenho sempre a nítida impressão que estou sendo enganado. A cumplicidade não permite que alguém diga “não é assim, as informações não conferem”.

O meu ego reclama pelo que é certo. Fui educado assim. Fingimos acreditar em pessoas que brincam com a política, que brincam com coisas sérias. Somos cúmplices dessas maracutaias que fazem. Estamos enganando a nós mesmos. A cumplicidade é tamanha que somos reconhecidos por isso. O silêncio é cobra gélida a espreitar minha alma angustiada.

A cumplicidade já não tem o significado de conivência. Cumplicidade é relação que envolve parceria, confiança e apoio nas mais diversas decisões a serem tomadas ou caladas. Ela é sempre atitude positiva porque demonstra harmonia, companheirismo e entendimento. Uma cumplicidade que prostitui a verdade.

Deixar nas mãos da Polícia Federal as correções necessárias mais parece um jogo no qual queremos fazer o papel de espectadores, quando somos cidadãos omissos, não cumprindo o nosso papel na democracia.

Em quem posso confiar? Na Polícia Federal! Na Justiça! Como cidadão brasileiro, preciso confessar, não me sentir seguro. Se a Polícia Federal prende, a Justiça trabalha arduamente para, em um pantanal de Leis, encontrar algum artigo que permite à liberdade. A confiança cria-se por meio de trocas. A palavra confiança, em inglês trust, vem da palavra alemã trost, que significa conforto. De origem escandinava, ela é semelhante à palavra treowe, que em inglês arcaico significa fiel. O significado paralelo das duas palavras não é tão surpreendente, pois é improvável que você seja fiel a alguém em quem não possa confiar.

Quando um povo é condenado pela falta de educação de qualidade, a participação cidadã é prejudicada em todos os âmbitos. A condição de participação é o papel fundamental dos cidadãos na democracia. Cidadão sem conhecimento não se percebe no direito, quanto mais no dever. A participação ética, sem cumplicidade conivente, constroi a democracia. Nossa democracia, pela desgraça da educação e omissão do cidadão, está carente de igualdade, de tolerância política, de responsabilidade, de transparência, de liberdade econômica e de controle do abuso de poder.

                                                                                        Professor e diretor da Kann PE*

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