EDUCAÇÃO PRECISA DE ESCOLA

07/05/2012 22:13

O problema não é o que fazer: é como falar a respeito do que precisa ser feito. Quem afirma ser o sistema falho ou enxerga manobras misteriosas por trás de cada equívoco, pouco tem a ensinar. Mas a disposição de discordar, rejeitar e dissentir é o sangue vital a uma sociedade aberta. Precisamos de pessoas que façam da oposição ao pensamento consagrado uma virtude. Uma democracia do consenso permanente não dura muito como democracia.

O conformismo é tentador. A vida comunitária parece bem mais fácil quando todos concordam com todos, onde a discordância é atenuada pelas convenções da acomodação. Sociedades e comunidades onde a discordância inexiste ou se decompôs não apresentam um bom desempenho. Há um preço a pagar pelo conformismo. Um círculo fechado de opiniões ou ideias no qual o descontentamento ou a oposição jamais são permitidos – ou aceitos apenas dentro de limites predeterminados e artificiais – perde sua capacidade de reagir a novos desafios com energia ou imaginação.

Pode este conformismo estar no jeito de ser da escola? Pode este conformismo estar na figura do professor? Uma escola que, por força de uma visão política, cada vez mais prepara seus alunos para a mão de obra e não para que sejam cidadãos éticos, pensantes, acaba por formar cidadãos conservadores.

A escola é complicada demais para ser um espaço de reflexão: ouvir e ser ouvido. Ouvir é um exercício de respeito, de valorizar. Ser ouvido é um espaço de partilhar, de contribuir.  A escola na qual você ouve e é ouvido é um espaço de crescimento individual e coletivo. Qual professor, trabalhando o número de horas e pelas leituras que o tempo lhe permite fazer, consegue propiciar tal espaço? A escola pública (federal, estadual e municipal) e a escola privada atendem, praticamente com a mesma proposta, a públicos diferenciados, dos mais humildes e desamparados à elite. A estabilidade da pública gera instabilidade e a instabilidade da privada é seu jeito engessado de ser e a futura falta de alunos. No mundo do mercado as escolas públicas e privadas se digladiam acreditando em algo que pode não ser.

Enfim, a quem cabe dar o grito pela mudança, pela valorização, senão ao professor. Não haverá mudança, sem um mínimo de sacrifício. Mudanças são, muitas vezes, dolorosas, e sacrifício é deixar de fazer uma coisa boa por alguma coisa melhor no futuro. O professor é o indivíduo que personifica a orientação ética de seu trabalho. Uma pergunta não deve calar a tarefa do mestre. Qual é a nossa responsabilidade na construção desse mundo? Como afirma Howard Gardner “creio que a educação formal nos dias de hoje ainda prepara os alunos principalmente para o mundo do passado, em lugar dos mundos possíveis do futuro”. Continua Gardner “A maioria dos alunos, incluindo os que frequentam nossas melhores escolas e recebem as notas mais altas, não conseguem explicar o fenômeno sobre o qual estão sendo questionados. Muitos deles dão exatamente a mesma resposta que nunca cursaram disciplinas relacionadas ao tema e supostamente nunca tiveram contato com os conceitos relacionados a uma explicação adequada. Esses alunos podem ter acumulado muito conhecimento factual ou temático, mas não aprenderam a pensar de maneira disciplinada.” Que os estudantes encontrem um motivo para estar na sala de aula, aprendendo para a sua época, através da educação, e tenham no professor o seu modelo fundamental.

Prof. Romério Gaspar Schrammel

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