ENSINAR A PENSAR

04/03/2012 00:49

Outro dia escrevi sobre o aluno e sua natureza. O tema foi pauta da mensagem aos alunos concluintes do Ensino Fundamental, na Unidade Taquari. A verdade é que o escrito tem trazido reações – o que é muito bom. Está em pauta um assunto que nos tem desafiado há tempo – ensinar a pensar.

O professor, ao adentrar uma sala de aula, está lá, senhor do conhecimento, de um conhecimento adonado. Se o professor deve desenvolver no seu aluno o homem de entendimento, o homem de razão e o homem de instrução, respectivamente, como o fará se aprendeu a distribuir conhecimentos recebidos de outrem, de professores e de livros. Ler e aprender são coisas que qualquer aluno pode fazer por seu próprio livre arbítrio, mas pensar não. O pensar deve ser incitado, deve ser sustentado por algum interesse no assunto em questão. O interesse encontra-se nas cabeças que pensam por natureza, para as quais pensar é tão natural quanto respirar. Estudar, decorar para provas, força pensamentos alheios sobre a mente, homens que pensam são os que vão ao livro da Natureza – foram estes que esclareceram o mundo e levaram a humanidade um passo adiante. Um homem deve ler quando a fonte de seus pensamentos estagna. Aquele que pensa por si se empenha como vivente feito pela Natureza. A mente pensante é alimentada pelo ambiente.

Tenho repetido aos professores e funcionários que há, em nossa unidade, um sentimento no ar de algo a se revelar, que nos fará encontrar um caminho: ensinar a pensar. O desafio está no que acontece em sala de aula – no interagir com o aluno. O professor não tem a tarefa de trazer conhecimento pronto, feito por outros. O professor não se desafia, tem medo, do erro, de pessoas presas a sua época, está condenado pelo seu passado. A natureza do professor, e de muitos pais, foi destruída – na escola. Não podemos cometer o mesmo erro. Sempre me lembro de uma passagem da biografia de Nietzsche que diz que “tinha o poder de entusiasmar os jovens para a disciplina que ensinava. Excelente professor, não visava ao simples acúmulo de conhecimento – pelo contrário, insistia no desenvolvimento do senso crítico e da atividade criadora de cada um. Incitava os alunos a exprimirem livremente suas opiniões, incentivava-os a fazerem suas leituras pessoais. Não precisava castigar, porque punha para trabalhar mesmo os alunos mais relapsos. Durante as conversas o professor Nietzsche procurava ouvir mais do que falar; através de perguntas estimulava seu interlocutor a exprimir livremente suas opiniões, mesmo quando se tratava de um de seus alunos. Era um homem de poucas palavras, mas sua alegria era visível quando um aluno medíocre conseguia um bom resultado. Preparava os alunos para que soubessem falar espontaneamente, sem recorrer às anotações.” O que o aluno procura é proficiência no método de refletir e fazer inferências por si.

O ensino “tradicional”, decorar, estudar para provas é condenar o aluno a estar sempre atrás do mestre, é condená-lo a ser sempre leitor, nunca autor. Um homem pode sempre sentar-se e ler, mas não pensar. Um homem não deve ler em demasia, nem decorar conhecimentos alheios, a fim de que sua mente não se torne acostumada ao substituto e, consequentemente, esqueça a realidade, a fim de que não se acostume a seguir caminhos que já foram trilhados, seguindo um curso de pensamento alheio e esquecendo o próprio. Uma pessoa que pensa por si pode ser facilmente diferenciada pelo modo como fala, pela sua acentuada honestidade e a originalidade, retidão e convicção pessoal que marcam todos seus pensamentos e expressões.

A escola está há muitos anos, dentro de uma redoma que a tem separado da sociedade. Os professores devem transpor este obstáculo, a redoma, e sentir-se parte integrante da sociedade. Educar significa extrair, tirar do aluno aquilo que ele já traz no seu interior, resgatando o valor imenso que deve ser dado pelo aluno à vida, tanto a sua própria como a de seu semelhante e de outros seres vivos. Escola é um espaço de questionamento, de convivência, de troca – é um laboratório de dúvidas. Um grande professor não abate nunca um aluno questionador e ainda potencializa os medíocres. A ideia da nossa Escola é o aluno aprender que o ideal é ele não perder a sua natureza.

                       Prof. Romério Gaspar Schrammel

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