FILHOS

28/11/2013 16:55

 

             Segundo o filósofo Hegel, não ter filhos sinaliza uma falta na natureza amorosa de um casal. São os filhos que concretizam a família, o que não significa que devem acumular o peso da subsistência do casamento dos pais. Os filhos geram também o sentimento de que há mais vida por vir depois da morte dos pais. Quando estes se vão, pelo menos é assim na maioria das vezes, os filhos permanecem, perpetuando a vida dos pais, tanto pelos genes quanto pela memória.

            O filho, ao vir ao mundo, torna-se a memória do pai e da mãe, o arquivo reunido daqueles que o criaram, seja com amor ou desamor. Sim, há pais que não amam seus filhos, por mais absurdo que pareça. Algo impensável, mas real. Apesar do viés filosófico de todos apontar para uma tentativa de compreensão do real, o que nos diferencia dos animais, parece que nem tudo é possível compreender racionalmente.  Porém, se não dá pra compreender, temos uma boa saída: viver o amor de mãe e pai. E tem muita mãe que faz o papel de pai e vice-versa.  Tem ainda os dindos(as) que são os pais que ficam no “banco de reservas”, mas que a todo momento podem e devem entrar em campo, fazendo o papel de pais.

            Por minha conta, digo que os filhos me deram a dimensão de um amor incomparável. Talvez seja o que mais se assemelha ao dito amor cristão (ágape), aquele que dá a vida por seu irmão. Junto deste amor, o apego parece inevitável. Apego que os estóicos e budistas não aconselham, já que o apego é sinônimo de sofrimento. Temos uma indagação: será possível amar sem se apegar? Apesar de significarem tudo (ou quase tudo) para nós pais, chega o tempo em que eles se desapegam, independentemente do nosso apego. Claro que há exceções e muitas vezes configuram patologias. Mesmo desapegados, os filhos continuarão assegurando nossa imortalidade parental e o amor que temos por eles ninguém tira mais. Eles só terão a verdadeira dimensão do que sentimos, quando se apegarem ao serem pais. Dá trabalho, traz preocupação, mas ter filhos é bom demais!

Autor: Marcos Kayser, voluntário da Agenda 2020 e filósofo/OPINIÃO em 28, NOV. 2013

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