MEUS SINCEROS PARABÉNS AOS PROFESSORES

17/10/2013 14:21

Fábio Zugman*

Eu já fui professor. Apesar de muitos me chamarem de professor, já faz algum tempo que não carrego oficialmente o título ligado a alguma universidade.

Nesse dia, em que elogios inundam a mídia e redes sociais, devo dizer, o mundo não é bem assim: já ouvi professor dizendo que está na carreira por falta de opção. Já vi professor terceirizando a correção de provas, já vi professor com síndrome de Peter Pan, frequentando churrasco e caindo com tudo em cima de alunas (e alunos) 15 anos mais novos. Já vi professor sem qualificação nenhuma dando aula, e já tive que corrigir muitos “ensinamentos” errados que chegavam até mim por alunos que passavam pelas mãos de outros professores.

Também já vi professores se obrigarem a grades de horários sem sentido por causa de um coordenador ruim. Já vi professor ensinar matéria que não domina por causa de corte de custos vindo da direção. Já vi professor que, apesar de anos de dedicação, foi demitido quando ficou caro para a faculdade e trocado por um mais jovem e mais barato.

Já ouvi o clássico “você sabe com quem está falando” de aluno raivoso. Já me ameaçaram fisicamente. Já fui seguido dentro do banheiro em época de provas. Já ouvi de um orientador de doutorado que só pegava orientações porque era obrigado. Já fui cobrado pela coordenação por liberar a turma mais cedo em dia que a aula rendeu bem, como se cinco minutos para lá ou para cá fizessem uma bela aula.

A realidade da sala de aula é definitivamente mais complexa que essa ou qualquer descrição possa chegar perto de descrever. Há pressões de alunos (dos bons e dos maus), de superiores, de colegas (por carreirismo, ciúme ou o velho “não fui com a cara dele”) e até de pais de alunos de ensino superior.

Os professores bons trabalham. É verdade que a carga horária é compensada pelas férias escolares, mas em período letivo, muitos entram cedo e saem tarde, passam horas preparando aulas, se atualizando, corrigindo trabalhos e provas. Levam a parte ruim numa boa e aceitam a parte boa com felicidade.

Foram professores assim que aceitaram um aluno de Ciência da Computação em um Mestrado em Administração. Foi um professor assim que me convidou para ser meu orientador de Mestrado, que depois me tornou co-autor em um livro. Foram bons professores que, além do conteúdo, me ensinaram sobre dedicação, profissionalismo, como ser um bom intelectual e como além de dominar um assunto, ensinar aos outros com respeito às suas histórias pessoais e capacidades individuais. Um bom professor muda uma vida.

A esses, meus sinceros parabéns. Vocês não são reconhecidos o suficiente.

Há outros, que citei acima, que não estão nem aí. Ficam na carreira docente por encontrarem o conforto psicológico de estarem cercados de jovens que o verão como “autoridade”, continuam no emprego por falta de opção ou por não terem competência de se ver fazendo outra coisa. A esses, o meu apelo: façam uma gentileza ao mundo - arrumem suas coisas e vão embora.

Feliz dia dos professores. Que os bons sejam cada vez melhores. Vocês merecem todo o meu respeito. Eu sei que é brega, mas os bons professores não recebem reconhecimento suficiente, talvez nunca recebam. Recebam, então, meu humilde parabéns!

*Consultor de empresas, é autor de diversos livros, entre os quais "Empreendedores esquecidos" e "Administração para profissionais liberais". Em sua coluna aqui no Administradores.com, ele fala sobre empreendedorismo, inovação e criatividade, respondendo perguntas dos leitores.

 

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