O INCONSCIENTE ADAPTÁVEL

31/05/2012 11:22

O nosso inconsciente é muito poderoso, porém falível. Quando devemos confiar em nossos instintos e quando devemos nos precaver em relação às condições precipitadas? O fato é que, nos casos em que nossa capacidade de cognição rápida falha, ela falha em virtude de razões bastante específicas, e tais razões podem ser identificadas e analisadas. O poder de avaliar uma situação em questão de segundos, não é um dom divino reservado apenas a uns poucos eleitos. É uma habilidade que pode ser voluntariamente desenvolvida por cada um.

Sempre vi o pai como o empreendedor que se movia num mundo de incertezas para que aqueles que trabalhavam para ele e com ele acreditassem estar num mundo seguro. O mundo é, por definição, incerto. Ninguém pode garantir nada. “A felicidade requer que o futuro seja incerto”, escreveu Jorge Wagenberg. O pai, um batalhador, tinha tudo sob o seu controle quando a empresa era pequena. A pequena estrutura fez a empresa crescer, mas o pai e a estrutura não souberam crescer com ela. Os processos precisavam mudar, assim como o perfil de certas pessoas que ocupam cargos, inclusive as próprias funções das lideranças.

Os filhos cresceram, estudaram e foram assimilando outros conceitos e também outras experiências. O pai persistente, mas também resistente não dava lá muitos ouvidos às teorias dos folhos. Para o pai tudo era uma questão de conceitos, mas os filhos olhavam para os resultados. Os filhos atuavam lá com o pessoal “chão de fábrica”. Centralizador, o pai não permitia que melhorias germinassem de sugestões dos funcionários da linha de frente, bem como de gerentes e líderes. A premissa de Ken Mehlman era “O líder máximo precisa ser capaz de ser liderado a partir das bases”. As coisas não andavam bem. A avó, como o filho, acreditava que é preciso estar 24 horas dentro da empresa. O confortável é que a avó cobria débitos.

Alguns questionamentos começaram a incomodar o pai. Excesso de expectativa, a ideia de negócio, erros insignificantes que iam se transformando em verdadeiros problemas, ficar obcecado por uma ideia ruim, não aceitar as evidências, não modificar sua forma quando ainda era tempo, falta de humildade e flexibilidade para corrigir deixavam os filhos preocupados. O tempo passava e mais dificuldade teve o pai de entender como o racional e o emocional interagem no ambiente de trabalho. Ter uma força de trabalho emocionalmente comprometida não é vantagem, é uma necessidade. Fernando Trias de Bes escreveu que “os negócios não fracassam, as esperanças é que são derrotadas pela falta de disciplina, imaginação e flexibilidade para enfrentar imprevistos”.

O pai entrou em minha sala, abatido, pálido – isso não era normal, dialogar comigo. Sentou na poltrona, em frente a minha mesa. Atrapalhado fingia querer telefonar. Não trago boa notícia, disse ele. A avó faleceu, acrescentou, rápido. Temos agora dois planos, continuou ele. BLINK - foi nesta hora que tomei “a decisão num piscar de olhos” (de Malcolm Gladwell). Então vamos de Plano B, finalizou o pai.

Professor Romério Gaspar Schrammel

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