SER PROFESSSOR, SER PROFESSORA

07/06/2013 07:16

Romério Gaspar Schrammel*

Ouvi então da janela o grito de uma professora. Parei por alguns minutos e fiquei a refletir sobre o que ela “dizia”. Coloquei-me no lugar daquele menino – que eu não via. A sua mãe grita, seu pai grita, seus irmãos gritam – e a sua professora também grita. Enfim, todos gritam. A sociedade já não fala, como não fala também não educa.

Aprendi a ser professor. Ser professor não é nada fácil. Ser médico não é nada fácil. Professores e médicos lidam com pessoas. Pessoas que precisam de ajuda. Professores e médicos cuidam da saúde social. Professores e médicos falam com as pessoas. Quem grita não educa.

A exclusão brasileira começa na sala de aula. Acredito nessa máxima. O que acontece em muitas salas de aula não é educação, é seleção. Lamentavelmente o professor não vê como seu desafio auxiliar os alunos com maiores dificuldades. Muitos professores se veem nos alunos com melhores resultados. Os mais fracos, com mais dificuldades não lhes pertencem, precisam de recuperação. Se precisam de recuperação já não fazem mais parte de sua querida turma.

Se os professores trabalhassem como os médicos, dando prioridade para os mais enfermos, nossa sociedade seria também culturalmente mais saudável. Bom aluno não precisa de professor, ou melhor, talvez precise muito pouco dele. Infelizmente o professor abraça o bom e descarta o carente. Quantos Josés, neste país, precisam de uma professora como Márcia Porciúncula?

Sei que não é fácil. Tenho experiência. Sei do que falo. Tenho certeza de que recuperar um aluno com maiores dificuldades é muito mais prazeroso. O desafio para os professores é enorme. Nas escolas encontramos todos os problemas sociais. Nunca os professores fizeram tanta falta, quanto nos tempos de hoje. Educador, professor é quem se reconhece como um pilar cultural da sociedade. Se a educação brasileira não vai bem é porque nós professores somos também responsáveis. Fomos pouco inteligentes, fomos omissos em nossas tarefas como educadores e como exemplos de cidadãos pensantes.

O menino não precisa do grito da trabalhadora da educação, ele precisa da fala educada de uma professora. Ele precisa de alguém em quem possa se espelhar: a professora. Professor planta: respeito e normas. Professor convive: exemplo e amor. Professor abraça: aluno e cidadão. Professores propõem atividades que despertam para o saber.

O principal conteúdo do professor é o aluno. Como professor preciso compreendê-lo. Preciso inserir-me em seu contexto. A aula pode ser interessante, o aluno pode até adorar, mas só me realizo, dou-me por satisfeito quando as coisas elementares ele praticar: ler, respeitar, somar e amar.

                                                                                             *Professor

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