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30/08/2012 09:01

RESPOSTAS... E AS PERGUNTAS?

“Orientada desde a sua fundação pela crença de que uma empresa de comunicação deve ter responsabilidade diferenciada para com seu público, a RBS decidiu concentrar suas ações e seus investimentos na educação...” Esta foi, para mim, dentre todo o trabalho de lançamento da campanha “A Educação Precisa de Respostas” a frase-chave. Ela tocou o meu coração, o coração de um educador. Tenho certeza de que a educação está no DNA de muitos pais como deveria estar no DNA de todas as empresas brasileiras. A cobrança por melhor qualidade na educação dever começar nas empresas.

Por que a maioria das empresas não se mostram insatisfeitas? Talvez por estarmos em sexto lugar na economia mundial, mesmo sem uma boa educação. Empresários mostram-se insatisfeitos com a alta taxa de impostos – não sabem eles que pagam muito pela falta de educação. Os números da educação são preocupantes.

Educação não é coisa de momento. Educação é debate, é reflexão, é a procura por qualificação em todas as áreas, é pesquisa, é investimento. Educação não faz parte do cardápio brasileiro. Todos têm algo a dizer. Todos têm respostas. Respostas sem perguntas. Passamos a vida escolar estudando para encontrar a resposta adequada. Quando adultos, descobrimos que não aprendemos a perguntar. Perguntar, questionar faz avançar.

Houve avanços na educação. Não há como negar, mas há uma lacuna entre o aluno, digital, como definiu o ministro da educação, Aloizio Mercadante, e o mercado, que necessita de profissionais qualificados. Esta lacuna está nos pais e a escola. Frutos de sua época. Educação é resultado em longo prazo.

Os pais vivem o seu trabalho, distante da vida dos filhos. A maioria dos filhos está anos a frente dos pais. A muitos pais já não é permitido cumprir o seu papel. Para uma mudança, até mais rápida, é preciso encontrar uma medida mais consistente para chamar os pais à responsabilidade. Pais que investem na educação dos filhos são pessoalmente beneficiados, mas investem também nos netos, bisnetos...

Sabemos que os professores, viemos da classe social menos assistida. Os professores, em sua grande maioria não vêm de famílias em que a educação era prioridade, aprenderam a valorizá-la, a criar paixão, no caminho à escola. Outros muitos, ser professor, foi o que lhes restou. Também não estudaram nas melhores escolas. Os resultados da educação são da Educação – os professores também. O Brasil já importou escravos e já exporta mão de obra qualificada. O professor vê em cada aluno um cidadão, uma nação. Uma nação que não vê, não qualifica e não paga o professor. A educação deve fazer parte do cardápio diário, em todas as famílias. Empresas, assim como o Grupo RBS, podem, e muito, ajudar neste trabalho.

                                                 Professor Romério Gaspar Schrammel

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29/08/2012 14:49

O ENSINO PRESENCIAL ESTÁ NO BOLSO

1. Mobilidade

Os alunos carregam sua escola “no bolso”, computação móvel (como smartphones e tablets) está mais acessível que a tradicional escola. Os aplicativos estão disponíveis para ampla variedade de usos como, por exemplo, o acesso aos conteúdos arquivados em bibliotecas e materiais de curso. Em breve teremos novos aplicativos voltados à Educação com inovadoras finalidades e muitos educadores incorporando esses aplicativos em suas práticas pedagógicas cotidianas. Mesmo algo tão simples como conseguir ler os conteúdos de uma disciplina e curso, mesmo estando em movimento tem se mostrado extremamente benéfico.

2. Conectividade

Se precisar conectar de casa, no trabalho, da escola, na estrada ou em qualquer situação social, as pessoas buscam e dependem, cada vez mais, do acesso em “nuvem” para obterem suas informações e dados sobre sua comunidade.

A conectividade também se tornou muito mais “transparente”. O smartphone no bolso indica sua localização e, portanto, onde estamos. Estes dispositivos gravam nossas coordenadas de localização, bem como tiram fotos, possibilitam a conversa entre amigos e até mensagens de  atualização para redes sociais. O próprio mundo vai se tornar o campus da universidade.

3. Abertura

Informação está em toda parte; o desafio é fazer uso eficaz dela na busca do aprendizado e do conhecimento. Acadêmicos estão começando a explorar novos modelos para abrir mais o leque de recursos, porém protegendo o valor acadêmico e reconhecendo a autoria. Estudantes são em geral muito produtivos. Eles criam o tempo todo e “muito além de suas tarefas”, muitas vezes não percebendo que, com isso, eles estão aprendendo. A produção,  avaliação e a interação com estes meios de comunicação tornou-se tão importante quanto às tarefas mais básicas como pesquisar, ler, assistir e ouvir. As instituições de ensino estão começando a entender como elas podem adicionar valor real ao processo de aprendizagem, usando mídias sociais para conseguir um diálogo rico, envolvente e bidirecional entre seus alunos e funcionários.

4. A inteligência coletiva

Crowdsourcing (recursos de multidão) é uma atividade de trocas entre comunidades, geralmente temporárias, para contribuir com intercâmbio de ideias, links ou materiais que de outra forma permaneceriam desconhecidos. Nos próximos anos veremos muitas escolas utilizando, cada vez mais, plataformas de redes sociais para compartilhar informações de interesse comum. O grande desafio é tornar ideias de “inteligência coletiva” como conhecimento válido e aceito como uma das formas tradicionais de ensino.

5. Os mundos virtuais

A maioria das instituições de ensino superior estão realizando projetos em espaços virtuais. No Second Life, existem milhares de experimentos educacionais disponíveis, ativos e em andamento. Os projetos iniciais foram fortemente baseados em cópia do mundo real, especialmente reproduzindo campi físicos, mas as práticas têm gradualmente dando lugar a empreendimentos mais experimentais. O mundo virtual vai continuar nos permitindo fazer o que não pode ser feito no mundo real, fornecendo plataformas para melhor atender a necessidade do processo ensino-aprendizagem.

O texto original é do Professor Gilly Salmon Technology Outlook> Australian Ensino Superior 2012-2017, que foi lançado em 10 de maio de 2012

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20/08/2012 14:13

ENCONTRAR UM PONTO DE PARTIDA

Os dias são de resultados alarmantes, preocupantes. É nas olimpíadas, na educação, na política, na justiça, na economia. Para onde vamos? O que fazer? A primeira atitude de muitos é achar um culpado. O que seria apenas prolongar o sofrimento. Aliás, é o que mais se tem feito. É preciso encontrar saídas estratégicas saudáveis para todos. Os resultados de hoje são plantados há tempos. Os cidadãos de bem já não ocupam espaço na política. Quem são os nossos referenciais? Já não encontramos cidadãos que gritam por justiça e mudanças. Parece que todos estão comprometidos. Tenho me manifestado, mas experimentei excomungado, pois a sociedade está equivocadamente organizada e argumentar é confrontar.

Acreditamos que tudo começa por uma educação de qualidade. Copiamos exemplos de outros países sem olharmos para a nossa cultura. Resultados em educação e esporte são frutos de muito trabalho e muito estudo - para citar dois exemplos.

Sempre questionei a relação das empresas com a escola. As empresas não cobram qualidade. Enfim, escola e empresa parecem viver em mundos diferentes – no Brasil. Afirmações de empresários ou diretores de setores aumentaram minhas preocupações, pois ouço expressões daqueles que decidem ou autorizam projetos nas empresas como: a)... nosso orçamento de treinamento está totalmente direcionado para os funcionários. b)... eu acho melhor realizar muitos treinamentos durante o ano, porque você acaba vencendo pela insistência. c)... quanto mais gente treinando, maiores as chances de melhorar os resultados. d)... o que a escola ensina não tem utilidade para as empresas. Tudo isso dito com muita naturalidade, com muita segurança.

As escolas precisam se reinventar. O país precisa se reinventar. A maioria dos professores está sobrecarregada, mal-remunerada e desmotivada, sem plano de carreira que valorize o aprendizado e a relação com a classe. Processos comerciais travestidos de "metodologias de ensino" padronizam disciplinas e avaliações, transformando muitas instituições em centros de adestramento, preparatórios para determinados exames ou necessidades operacionais do mercado. Na educação aplicam exames, nas doenças aplicam vacinas e na política resolvem com pacotes. Tudo de um jeito milagroso. Não funciona. Dá voto, mas não traz eficiência, não qualifica.

O Brasil mais parece o "paradoxo de Schrödinger", um experimento imaginário concebido em 1935 pelo físico Erwin Schrödinger para expor uma das consequências menos intuitivas da mecânica quântica.

Nossa caixa, aquela que nos impede de pensar, também é uma construção imaginária, por mais bem acabada que seja em nossa imaginação. Ela foi "construída" para que não tenhamos que pensar, para justificar o fato de que preferimos não pensar, não planejar. No entanto, para mudar precisamos da participação de diversos setores da sociedade. Neste país o público e o privado, de todos os setores, precisam aprender a sentar na mesma mesa para fazer acontecer.  Fazer com qualidade, com ética e com responsabilidade. Dar espaço para os que detêm o conhecimento e a prática. Faço minha as palavras de Cecília Meireles: “Dai-me, Senhor; a perseverança das ondas do mar, que fazem de cada recuo um ponto de partida para um novo avanço."

Professor Romério Gaspar Schrammel

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14/08/2012 23:01

SACRIFÍCIOS DOS TEMPOS

Nas relações humanas há atitudes e fatos que se repetem e não se explicam. Sacrificar é uma forma de podar pela prosperidade. Sacrificar tem a ver com manipulação. Sacrificar o sofrimento é manipular o sofrimento real do imaginário. O ser humano sacrificou para deuses com o objetivo de homenagear, agradecer, mas também para libertar-se espiritualmente de algum desconforto interior. Não quero abordar o tema sob o ponto de vista religioso. Quero colocar-me no lugar de quem influencia, manipula, sacrifica. No lugar de quem tem o poder. Poder para fazer.

Os vários motivos do sacrifício são mais importantes do que qualquer compreensão acerca de onde surgiu e como surgiu. O fato é que ele era praticado de diversas formas e tinha motivos diferentes, seja ele numa perspectiva protetora, salvífica, redentora, remissiva, cultural ou apenas como forma litúrgica de cultuar. O que importa é o que podemos aprender com eles e qual relevância este ato tem para nós.

O homem não fugiu da sua natureza. Fazer sofrer o próximo para prosperar ou para permanecer no status quo criou raízes em todos os segmentos em que há hierarquia. O sacrifício é mais doloroso quando líderes querem sacrificar um sofrimento imaginário comprometendo o coletivo. Fracos digladeiam-se no poder cujas consequências prejudicam a comunidade que não compreende o mundo da manipulação.

Líderes manipulam subordinados e organizações manipulam clientes ou mercados. Manipular é influenciar. Influenciar é um eufemismo para manipular, mas muito mais para sacrificar, pois esse já é uma questão de sobrevivência. Carlinhos Cachoeira passou de manipulador a manipulado, foi sacrificado politicamente. Digo sacrificado por não compreender, como muitos, a sua cassação. Alguém teve de pagar por um ato que diz respeito à maioria da classe política. O sacrifício trouxe, aos participantes, um estado de alívio por dois motivos: dever cumprido, ainda que entre aspas, e terem salva “a sua pele”.

A manipulação é uma das características humanas mais arraigadas que existem. Todos somos manipuladores natos, mas não necessariamente sacrificamos. Ser manipulador não é problema, mas o que fazemos disso sim. A todo momento somos o sujeito e o objeto, o manipulador e o manipulado, o sacrificador e o sacrificado. Na escala micro ou macro. Pessoal ou organizacional.

Prof. Romério Gaspar Schrammel

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13/08/2012 10:59

DESENCONTRO NA EDUCAÇÃO

Sempre questionei a relação das empresas com a escola. As empresas não cobram qualidade. Enfim, escola e empresa parecem viver em mundos diferentes – no Brasil. Afirmações de empresários ou diretores de setores aumentaram minhas preocupações, pois ouço daqueles que decidem ou autorizam os projetos nas empresas expressões como: a) ... nosso orçamento de treinamento está totalmente direcionado para os funcionários. b) ... optamos por não criar uma escola corporativa porque demanda muito tempo e investimento e o retorno é em longo prazo. c) ... eu acho melhor realizar muitos treinamentos durante o ano, porque você acaba vencendo pela insistência. d) ... quanto mais gente treinando, maiores as chances de melhorar os resultados.

O que mais impressiona é que essas falas saem naturalmente, com muita segurança. Isso denota o quanto os conceitos ainda estão enraizados no passado recente, em que o foco era treinamento, em sua concepção mais restrita.

Quando avaliamos resultados de congressos e seminários sobre a temática da educação, por exemplo, percebemos uma reincidência grande de atores em quase todos eles. Isso é resultado do trabalho daqueles indivíduos que têm falado sobre as inovações, difundido as melhores práticas e seus resultados, sempre buscando criar uma rede para a mudança.

Já temos várias fontes para que gestores e outros envolvidos no trabalho com educação possam atualizar-se, buscar conhecimento, sair do comodismo de apenas executar tarefas programadas de treinamento pontual ou uma grade hermética que foi acordada no início do ano.

Quando um diretor diz que o orçamento de treinamento está totalmente focado nos funcionários, ele perde a oportunidade de atentar para outros atores muito importantes para o seu negócio. Os clientes, a comunidade e os fornecedores, por exemplo, são muito importantes para o sucesso de qualquer empreendimento, uma vez que, na prática, várias etapas do próprio negócio dependem de como a empresa se relaciona ou gerencia o relacionamento com esses públicos. Cada nova oportunidade de relacionamento é, também, momento de reforçar práticas educacionais que agreguem valor à estratégia definida para o negócio.

Outro gestor disse acreditar ser melhor aplicar muitos treinamentos, porque assim vencerá pela insistência. Pode até ter seu valor o fato de se aplicar muitos treinamentos, dependendo do segmento da empresa, da dinâmica que o negócio exige e impõe. Mas definir isso como estratégia de educação e esperar simplesmente que os resultados virão pela insistência, para mim, beira à ignorância e à irresponsabilidade com os colaboradores e com o investimento que a empresa faz. Se não há planejamento e uma estratégia de resultados em longo prazo, o dinheiro será jogado no ralo.

A educação numa empresa acontece em várias instâncias e momentos e os profissionais precisam trabalhar para criar ambientes propícios de identificação e atendimento de demandas, obedecendo a um fluxo sistematizado e condizente com as necessidades alinhadas na estratégia do negócio.

Há muito a ser feito nas empresas, inclusive olhar para as escolas. Aqueles gestores que ainda não despertaram para as vantagens da educação nas empresas e escolas precisam começar a mudança o quanto antes. Com conhecimento as pessoas das empresas poderão ir além daquilo que se conhece como seus limites. Educação transforma realidades e ajuda a desenvolver o potencial dos indivíduos.

Prof. Romério Gaspar Schrammel

 

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31/07/2012 11:23

ADAPTAR-SE PARA SOBREVIVER

Li interessante texto de Rique Nitzsche sobre a necessidade de permanentemente adaptar-nos. Muitas vezes acabamos por achar-nos tão autossuficientes que acabamos por não mais ouvir, aprender e desaprender. As coisas mudaram, rapidamente, e não faltam exemplos.

Por algum determinismo voluntário, os habitantes da Ilha da Páscoa escolheram manifestar sua crença esculpindo monumentos que foram colocados nos limites do seu território. Para o transporte, eles precisaram de troncos de árvores. Ao longo dos anos, as árvores foram sendo sacrificadas em homenagem à comunicação dos homens com o universo. Quinhentos anos depois da chegada ao novo lar, as florestas morreram. Sem árvores, os navegadores ficaram sem transporte marítimo. A decadência foi contínua e implacável. Sem a proteína dos peixes, a população se alimentou dos pequenos mamíferos, até que só sobraram os ratos. Os clãs entraram em guerra e o canibalismo tornou-se rotina.

A história dos habitantes da Ilha da Páscoa, talvez seja uma metáfora a ser respeitada, se aceitarmos a ideia de compará-la com a Terra. É a capacidade de ficar inerte diante de posições política, religiosa, social ou cultural radicais que impedem qualquer atitude de mudança. Essa característica de imobilidade diante da necessidade de adaptação sustentável é que destrói o futuro de países ou de empresas. É o famoso conceito da seleção natural de Charles Darwin: sobrevive quem consegue se adaptar.

O que está acontecendo hoje na Grécia não é novo. Já foi escrito e encenado milhares de vezes no drama humano da dissimulação do poder. O governo tanto não conseguiu fazer as mudanças impostas pelos antigos credores, como criou descaradas mentiras contábeis para esconder o fato. Para piorar, o partido que afundou o país pode voltar ao poder nas eleições nesse ano de 2012. Cada parlamentar grego custa à nação quase o dobro de um parlamentar alemão. Para complicar, um quarto dos gregos são funcionários públicos. Talvez por isso, poucos gregos aceitam qualquer mudança da situação crítica que ameaça a estabilidade do país e do continente europeu. Preferem culpar os outros, mesmo com uma herança crônica.

Em janeiro de 2012, a Kodak pediu ao governo norte-americano proteção contra a falência, depois de uma impressionante história de mais de 120 anos. Com um início inovador, “Você aperta o botão e nós fazemos o resto”, a empresa se esqueceu da sua promessa inicial. Justamente por causa dessa cultura investigativa, um funcionário da Kodak inventou o primeiro equipamento digital de captação de imagens em 1975. Ao invés de se adaptar aos novos tempos, a Kodak engavetou o invento com o receio de destruir o seu negócio de filmes. Pois os filmes morreram, como as árvores na Ilha da Páscoa, mas para a Kodak a queda foi mais rápida. O colapso, que demorava séculos para acontecer, diminuiu para poucos anos. 

Nações ou empresas não conseguem criar uma permanente cultura de mudança e adaptação. As desculpas são variadas e esbarram sempre na paralisia do medo da mudança. Diretorias costumam preferir a mudança gradativa o que é uma ilusão traiçoeira. A procura pela segurança cria muros fantasiosos de estabilidade.

Não existe dúvida de que estamos diante de um impasse que nunca existiu antes na história planetária. Quando as civilizações entravam em colapso, a raça humana se adaptava e seguia evoluindo. Aqui e ali, caíam populações inteiras, mas a mãe Terra era generosa e alimentava os sobreviventes. Agora, as empresas e os países estão ameaçados pela intolerância, ganância e imobilidade. Ninguém quer abrir mão de qualquer coisa, de qualquer conquista ou de qualquer crença. Desejamos que os outros mudem. Porém, “a forma mais eficaz de gerenciar a mudança é criá-la”, dizia Peter Drucker. Apesar da clareza dos argumentos, a maior parte do empresariado está trabalhando para um retorno ao capitalismo tradicional. Somente os descontentes querem mudar, mas como?

Uma possível solução foi oferecida em fevereiro de 2012 em um artigo sobre capitalismo sustentável, por Al Gore e David Blood. O ex-vice-presidente e ex-sócio da Goldman Sachs criaram em 2004 um fundo de investimentos sustentável visando o longo prazo com foco conjunto em fatores ambientais, sociais e econômicos. Eles tinham esperança que em 2008 poderiam alavancar o negócio provando que investimentos sustentáveis podem oferecer um retorno de lucro maximizado. Mas 2008 foi o ano da crise.

Na sua análise, a dupla diz que a perspectiva administrativa de curto prazo está destruindo as empresas e a economia planetária. Eles oferecem algumas ideias para um capitalismo mais sustentável. Regular a integração dos relatórios financeiros em uma forma condensada. Afastar-se da orientação de lucros trimestrais. Recompensar melhor os investidores fiéis que mantiverem suas carteiras por três anos ou mais. Criar um alinhamento de incentivo para os gerentes e executivos ligados ao futuro da empresa. Al Gore denuncia o malefício das transações algorítmicas de alta frequência. “A ideia de que maior liquidez é sempre melhor, não é verdade.”

Todos nós intuímos quais atitudes tomar quando queremos emagrecer. Sabemos que devemos comer menos e melhor. Também sabemos que aquela batata frita não é um alimento saudável. Mas por algum mistério, acreditamos em dietas mágicas, ou então adiamos uma mudança sobre nossa alimentação. Como crianças ansiosas, temos dificuldades em acreditar que as restrições de curto prazo nos oferecem um futuro melhor.

Sabemos que devemos ter atitudes mais cidadãs, pensar menos em nós mesmos e mais no coletivo. Não deveríamos desejar mais coisas e sim viver com coisas suficientes. Nosso materialismo deveria caminhar para o holismo, assim como a quantidade deveria ser substituída pela qualidade. Não adianta pensar no curto prazo, devemos nos preocupar com a herança social, ambiental e financeira dos nossos filhos e netos. Não adianta ficar preso aos direitos conquistados, mas temos que repensar quais são nossas responsabilidades diante do impasse da nossa cidade e do mundo inteiro. Nesse momento, os problemas dos outros também são os nossos. Se a Terra não precisa dos humanos, todos nós precisamos dela.

A sustentabilidade é uma prática de adaptabilidade contínua. Na prática, o inverso não é verdadeiro. O capitalismo se adapta e premia os mais adaptáveis, sem se preocupar com a sustentabilidade. Pois agora, diante de um colapso anunciado, precisa-se respeitar pelo menos um princípio da biologia: a perpetuidade de uma espécie depende das outras. Qualquer negócio será mais longevo se respeitar as leis da biologia. Empresas, estados e capitalismo, adaptem-se ou o sistema econômico morre.

                             Romério Gaspar Schrammel/texto original de Rique Nitzsche

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24/07/2012 10:00

PREVENIR FALHAS

O dia de hoje pode ser o inimigo do seu amanhã. Com esta frase Henry Cloud inicia seu livro “Coloque um ponto final”. Em seus negócios e talvez em sua vida, o futuro que você deseja e imagina talvez nunca se concretize se você terminar algumas coisas que está fazendo hoje. Permita-se sessenta minutos para a reflexão.

Para que surja algo novo, velhas coisas têm de acabar, e temos de nos desligar delas. A primeira infância dá lugar à segunda e por isso aquele período inicial deve ser concluído para garantir a independência que permite a uma criança evoluir.  A própria infância deve ser abandonada para que as pessoas se tornem os adultos que devem ser.

Há relacionamentos que têm de ser descartados, práticas e fases que precisam ser abandonadas e estágios que necessitam ser concluídos para abrir espaços ao próximo. Uma separação, o fim de algumas amizades ou atividades ou o desligamento de certos compromissos com frequência sinalizam o começo de uma vida nova e plena. Alguns finais não são um próximo passo natural, mas simplesmente necessários. O bom não pode começar até que o mal termine. Inspirado no Livro de Eclesiastes, da Bíblia, a mensagem é que há um tempo para iniciar as coisas e um tempo para terminá-las e é assim que a vida funciona.

A poda é um processo de finais proativo. Quando a poda não acontece, o resultado é a média ou ainda algo pior. Por pior que os resultados da falta de poda possam ser, nós ainda persistimos em evitá-la, porque implica medo, sofrimento e conflito. Para ter sucesso, temos de podar. A poda é um método na retaguarda da beleza.

Faça um teste para examinar seus sentimentos sobre a poda, para chegar a um acordo sobre suas crenças prévias sobre finais e para descobrir, honestamente, onde estão localizadas suas resistências internas.

A vida é constituída de ciclos e estações. Nada dura para sempre. Quando aceitamos isso como verdade fundamental, podemos alinhar nossas ações com nossos sentimentos, nossas crenças com nossos comportamentos, para aceitar como as coisas são, mesmo quando terminam.

Na primavera é momento de limpar o que morreu no inverno, reunir sementes, semear e plantar de verdade. No verão, é tempo de cuidar do que está criando raízes. Monitorar, administrar e proteger as plantas para o futuro. No outono, é tempo de colheita. Agir com rapidez para colher antes que passe do tempo ou haja danos por causa da chuva ou do frio do inverno. Já no inverno, tudo morre, embora a preparação continue. Deixar as finanças em ordem. Saldar as dívidas com credores das últimas colheitas e reunir dinheiro para o próximo plantio. O problema surge quando não aceitamos ou ignoramos deliberadamente essas estações.

A neurociência e a experiência têm demonstrado que podemos mudar e que novos caminhos e mapas podem ser construídos para que possamos alterar a maneira como pensamos e a forma como agimos. Às vezes, as pessoas confundem o conceito de poda com corte de despesas ou “redução do quadro efetivo”. Reconhecer estações e fazer podas é estratégico. Estações e podas têm a ver com foco, missão, propósito, estrutura e execução estratégica. Lembre-se: você não foi destinado a sobreviver, mas a prosperar – como uma roseira, você não pode prosperar sem poda. Para quem precisa de alguns passos positivos na vida “Sei que vivo no inferno, mas conheço o nome de todas as ruas.”

Professor Romério Gaspar Schrammel

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17/07/2012 09:46

PERGUNTAS ENCONTRAM VERDADES

Outro dia minha mãe, pessoa de pouco estudo, mas de muita leitura, atuante em instituições da Igreja como a OASE (Ordem Auxiliadora das Senhoras Evangélicas) perguntou-me por que já não mais podemos questionar, perguntar? As pessoas logo se ofendem. O que está acontecendo? – assim reagia ela. A mãe deixou-me sem palavras, pois vivencio o mesmo, há anos, mas ela, lá no interior, viver situação semelhante - não poder mais perguntar!  Pergunta gera insegurança, pode também gerar desconforto. É, a pergunta, indício de desconfiança? Lutero escreveu "Usemos também a razão, para que Deus se aperceba da gratidão por seus bens, e outros países vejam que também somos gente e pessoas que podem aprender deles ou ensinar-lhes algo útil, a fim de que também nós contribuamos para o melhoramento do mundo."

Martinho Lutero é um exemplo e fez diferença por não aceitar tão pacificamente. Reagiu, protestou, sofreu pela atitude e ações, mas assim eternizou-se. Conhecemos sua obra. Seu trabalho trouxe mudanças como o início da igreja protestante; a influência da reforma na economia; a criação da escola para todos (disciplinas como leitura, escrita, aritmética e religião se tornaram o currículo básico); re-inserção da mulher na sociedade; formação da língua alemã (Lutero e seus colaboradores não só criaram uma nova língua como também proporcionaram condições para que o povo pudesse ter acesso a este novo código linguístico); a formação da Alemanha; a importância da paternidade e da maternidade...

Em 1524 queixou-se de que "constatamos hoje em todas as partes da Alemanha que as escolas estão no abandono. As universidades são pouco frequentadas e os conventos estão em declínio”. Lutero não considerou supérfluo o ensino e estimulou que se os magistrados gastam tanto dinheiro para adquirir armamento ou para a conservação de estradas, “por que não levantar igual soma para a pobre juventude. Muito antes, o melhor e mais rico progresso para uma cidade é quando possui muitos homens bem instruídos, muitos cidadãos ajuizados, honestos e bem educados.” Rompendo uma tradição de responsabilidade da Igreja pelas escolas da época. Lutero chama a atenção das autoridades, mais especificamente dos conselhos municipais da Alemanha, e as incube dos encargos da educação escolar; dessa forma, o sustento econômico para a criação e manutenção das escolas seria de responsabilidade das instituições políticas locais.

Já não se trabalha a oralidade que nos ensina e nos prepara para o questionamente, a reflexão. O ensino oral propicia uma grande variedade de erros criativos, com as possibilidades de serem corrigidos e contraditos. A alma e o intelecto devem ser exercitados a fim de serem despertados para apreensão das verdades eternas reveladas. Sem os signos, não se pode ter acesso ao significado. Sem leitores não há reflexão. Estaria, a escrita, travando, imobilizando o discurso, tornando estático o jogo livre do pensamento? A palavra escrita não escuta o que diz seu leitor. Não toma conhecimento de suas perguntas e objeções. Uma pessoa que fala pode corrigir-se a cada momento; ela é capaz de retificar sua mensagem.

Hoje predomina a passividade, ninguém quer-se incomodar. Abraçar uma causa que outras pessoas não conseguem enxergar é uma atitude nobre. A nobreza da atitude pode muito bem ser confundida com mero momento de teimosia, cega o suficiente para não valer  nada. Estamos com medo do que os outros podem pensar ou dizer. Faltariam Luteros? É preciso não parar e acreditar, pois a verdade é sempre expulsa onde está, portanto precisamos procurá-la continuamente.

                                                Professor Romério Gaspar Schrammel

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10/07/2012 16:36

PAC na EDUCAÇÃO

Quando do anúncio do investimento de oito bilhões no PAC, fiquei a compreender o que poderia significar tal investimento. Afinal não é pouco dinheiro. É sim uma medida, uma atitude política. Ver máquinas enfileiradas faz diferença. É um curativo político, mas não é o remédio necessário para a democracia, para o desenvolvimento, para a sustentabilidade.

Fiquei então a pensar um PAC na Educação. Sem compreender o objetivo real da oferta de bolsas oferecidas em diversas qualificadas universidades no primeiro mundo, mas sonhando na volta destes. Quanto não acrescentará, futuramente, à nossa sociedade! E o professor? Este que abre os olhos, pois, como escreve Rubem Alves “a primeira tarefa da educação é ensinar a ver... Aprendemos palavras para melhorar os olhos”.

É sabido que na Educação não é possível fazer um PAC milagroso. O investimento é na mão de obra qualificada: o professor e a professora. O governo pode sim comprar, investir em tecnologia, espaço físico aconchegante. Mas a Educação precisa de professor – e não pode ser o que revelou o concurso público em nosso Estado. A realidade da Educação no Estado, assim como no País, é fruto do investimento, do planejamento da educação pública.

O PAC da Educação precisa de educadores que têm cede pelo conhecimento. O professor precisa criar um fascínio pelo saber, precisa fazer da educação um produto de consumo. Professores dominam filosofias e tecnologias. Professores compreendem pessoas e metodologias. O Brasil precisa de um político que seja professor, no significado filosófico da palavra, pois o povo precisa de um PAC: Educação.  

O PAC da Educação é o professor interagindo com os alunos, usando tecnologia, usando também uma boa dose de humano. O PAC da Educação prepara o aluno para a época dele, do aluno, porque a Terra não é nossa, nós é que somos da terra.

Tudo começa na sala de aula, mas dela precisa sair, pois precisa ir ao encontro dos pais. Estes já não têm como acompanhar seus filhos. Criou-se uma lacuna entre pais e filhos que precisa ser ocupada. Uma lacuna que deu espaço a um nascedouro de problemas sociais.

A evolução tecnológica é tão significativa para o aluno que já não tem espaço para professor que vive distante dela. A sala de aula é um espaço de pessoas que procuram se polir, um espaço de relações, de interações, de tecnologia, de conhecimento e de humano – com valores éticos e morais. O PAC do Brasil está na Educação – no que acontece na sala de aula.

                                                                            Professor Romério Gaspar Schrammel

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07/07/2012 13:39

SOBREVIVER NA LIBERDADE

Um passarinho, cujo habitat é a gaiola ou ainda o apartamento, foge no momento em que a proprietária, do apartamento e também do passarinho, abre a porta para atender uma visitante. No momento em que o passarinho sai pela janela do corredor e alcança a noite, a velha senhora diz à moça “ele não sobreviverá na liberdade”. Como pode o pássaro não sobreviver na liberdade? Como pode alguém não sobreviver na liberdade?

Os humanos não são diferentes do passarinho. Quando alguém vive anos no mundo das metas, já livre de tudo isso sai a voar e pode não sobreviver. Pensei em escrever, mas cedo fui alertado por Platão. As palavras escritas parecem falar conosco como se fossem inteligentes, elas nos dizem, diferente do pensamento de muitos, coisas diferentes.  A palavra têm significados e o leitor atribui-lha significados conforme seu desejo, sua vontade ou necessidade. Uma vez que algo foi escrito, seja qual for, espalha-se por toda a parte, caindo em mãos não só dos que a compreendem, mas também dos que têm relação alguma com ela.  A falta de reflexão revela a má interpretação.

Procuramos pela liberdade, mas insistimos pela escravidão. Liderar parece não dizer respeito à pessoa, mas é onde tudo começa. Não somos educados para liderar-nos. Não somos, portanto, educados para a liberdade. A escola brasileira é claramente pensada como formação voltada para atender as demandas do mercado. A mão de obra não qualificada é encarada como um risco para o desenvolvimento econômico. O objetivo do ensino é instrumentalizar e adequar o indivíduo para o mercado, visando o aumento da capacidade produtiva. A escola priorizou a aquisição de um grande número de informações, porém, agora, com critérios de utilidade, facilidade e rapidez.

Para a sociedade atual, a resposta é a adaptação introjetada pela “sapiência” da Indústria Cultural. Ela mostra aos indivíduos o que realmente é útil, “racionalizando” e padronizando as ações. Perdendo o poder reflexivo, a sociedade fica a mercê dos grupos que monopolizam as informações. Por sua vez, a educação também se transforma em um produto da Indústria Cultural, uma vez mais reproduzindo a ideologia dominante.

A escola está, portanto, distante de formatar cidadãos pensantes para a liberdade. Um ser que, por natureza, não pertence a si mesmo, mas a outro, mesmo sendo homem, este é, por natureza, um escravo.

A responsabilidade é vivida na solidão; mas as escolha pela qual somos responsáveis tem um alcance que não se esgota na individualidade particular. A magnitude da liberdade responsável está na imbricação entre singularidade e universalidade, o indivíduo e a sociedade. O indivíduo é livre quando a sociedade não lhe impõe nenhum limite injusto, desnecessário ou absurdo.

              Professor Romério Gaspar Schrammel

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