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01/07/2012 19:03

EM BUSCA DA ESCOLA

A palavra ESCOLA tem origem no grego scholé (“tempo livre” ou “atividade séria sem a pressão da necessidade”). Na Grécia Antiga, a escola era um luxo proporcionado a filhos de comerciantes ricos, para que pudessem ler, contemplar e deleitar-se no conhecimento de diversas disciplinas. Como observou Aristóteles, a escola é “ausência de necessidade de estar ocupado”.  Não é “estar sem trabalho”, é “ter tempo para pensar”.  Um luxo no mundo acelerado de hoje. Precisamos de tempo para pensar sobre o desafio de amanhã, ou seja, desaprender aquilo que funcionava ontem, sob pena de perder o futuro.

Quem não consegue resolver problemas ou criar novas idéias, em geral, está preso à sua maneira de perceber e definir problemas. Já li que há duas formas de se desviar de limites: mudar a forma de resolver o problema ou mudar a forma de ver o problema. Não conseguimos criar quando estamos cegos para algumas coisas, mas se você aceitar informações aparentemente irrelevantes como possivelmente úteis, você pode conseguir resolver problemas com mais frequência e ter momentos-ahá mais deliberadamente.

Mestres educadores, Isac Newton tinha 23 anos quando a força universal da gravidade apareceu em sua mente. Albert Einstein tinha 28 quando teve sua famosa “experiência de pensamento” e Bill Gates estava com 26 quando licenciou o sistema operacional QDOS à IBM. Jovens sempre criam o futuro. E em parte por sua inexperiência. Corro um sério risco, eu e outros tantos, pois a experiência produz convenções, e apesar de convenções poderem produzir sucesso, também podem atrapalhar nossa próxima grande ideia. À medida que envelhecemos ou ganhamos mais experiência em determinado assunto, convenções tornam-se mais difíceis de quebrar. Convenções criam limites artificiais em nossa mente – e ficamos quadrados. Se aprendermos a identificar, questionar, torcer, virar pelo avesso e, portanto, reconstruir esse quadrado, poderemos criar condições para pensamentos mais criativos. Uma das maneiras de questionar as convenções é aprender a pensar em posições opostas ao mesmo tempo. O filósofo pré-socrático Heráclito disse que toda mudança vem por contradições: vir a ser. Aristóteles anunciou, contra Heráclito, sua “lei da não-contradição”. Já Sócrates usou a ideia de Heráclito no famoso método socrático, o de ensinar questionanado.

Precisamos mestres leitores: leitores de livros e leitores da realidade - preparar-nos para a formação de um aluno questionador. Pelo que hoje vivenciamos: violência, corrupção, políticos omissos, são, entre outros, frutos de uma escola que castra a criatividade e educa exclusivamente para viver com normas do mercado. É preciso olhar as coisas sob perspectivas diferentes. Por quê? Porque as nossas verdades muitas vezes não permitem enxergar possibilidades.

Que as nossas escolas possam ser uma scholé, na qual possamos exercer nossa atividade de forma séria sem a pressão da necessidade. E os mestres deixem de ocupar seus alunos, preparando-os para provas, mas façam pensar. Como diz Aristóteles, a escola é “ausência de necessidade de estar ocupado”, mas não podemos deixar de “ter tempo para pensar”.

Professor Romério Gaspar Schrammel

 

 

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24/06/2012 20:00

ACREDITAR e AGIR

Há um conto antigo que relata que um viajante caminhava pelas margens de um grande lago e imaginava uma forma de chegar até o outro lado, onde era seu destino. A voz de um homem de cabelos brancos quebrou o silêncio momentâneo, oferecendo-se para transportá-lo. Era um barqueiro. O pequeno barco envelhecido, no qual a travessia seria realizada, era provido de dois remos de madeira de carvalho. O viajante olhou detidamente e percebeu o que pareciam ser letras em cada remo. Num dos remos estava entalhada a palavra acreditar e no outro, a palavra agir. Não podendo conter a curiosidade, o homem perguntou a razão daqueles nomes originais dados aos remos. O barqueiro pegou o remo, no qual estava escrito acreditar, e remou com toda força. O barco, então, começou a dar voltas sem sair do lugar em que estava. Em seguida, pegou o remo em que estava escrito agir e remou com todo vigor. Novamente o barco girou em sentido oposto, sem ir adiante. Finalmente, o velho barqueiro, segurando os dois remos, movimentou-os ao mesmo tempo e o barco, impulsionado por ambos os lados, navegou através das águas do lago, chegando calmamente à outra margem. Então o barqueiro, com muita sabedoria, disse ao viajante: ‘Este barco pode ser chamado de autoconfiança. E a margem é a meta que desejamos atingir. Para que o barco da autoconfiança navegue seguro e alcance a meta pretendida, é preciso que utilizemos os dois remos ao mesmo tempo e com a mesma intensidade - agir e acreditar.

Se os dois remos devem ser utilizados ao mesmo tempo é porque entra em jogo uma terceira palavra: relação. Nosso bem estar, no dia a dia, não depende apenas do acreditar e agir, mas também das nossas relações. Como é difícil fazer-se entender, fazer compreender! Seguidamente me defronto com situações em que houve falha na compreensão – não disse nada do que a pessoa assimilou. Como pode? Pode sim, cada indivíduo tem suas experiências, suas leituras, seus conhecimentos, que não são os meus, e é a partir deles que interpreta. Há uma palavra que determina o sucesso de qualquer relacionamento, um elemento sem o qual duas pessoas jamais poderiam conviver adequadamente: cooperação. Uma relação exige cuidados e muitas vezes eles incluem a abdicação voluntária do Eu para a melhor manutenção do Nós, que poderá ser o melhor a longo prazo. Os dois remos do relacionamento chamam-se EU e TU – o barco chama-se NÓS. O benefício principal dessa abordagem é que, uma vez visualizados seus efeitos, os indivíduos a percebem como melhor opção e se sentem confiantes para continuar empregando-a, de modo a prolongar os benefícios. Acredite, aja e coopere no relacionamento.

   Prof. Romério Gaspar Schrammel

 

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17/06/2012 15:00

UMA ARMA: A PALAVRA

Assistimos, todos os dias, a cenas de violência. Tudo parece distante – é no Rio de Janeiro. Violência é questão de humanização. A pessoa precisa ser polida, desde a infância, para tornar-se humana - é nossa tarefa sagrada de todos os dias, na escola. Muitos estudam para somente adquirir conhecimento. A falta de educação obscurece todo o conhecimento. Na boca destes, menos humanizados, a palavra torna-se uma arma. A palavra fere perigosamente. Escreve Afonso Romano de Sant’Ana que “há várias formas de matar um homem/com o tiro, a fome/a espada/ou com a palavra/envenenada./Não é preciso força./Basta que a boca solte/a frase engatilhada/e o outro morre/- na sintaxe da emboscada.” Pessoa educada, sábia, com conteúdo é aquela que sabe usar a palavra para construir. Rubem Alves escreve “ficando mais rico interiormente, pode-se sentir mais alegria e dar mais alegria - que é a razão pela qual vivemos. As palavras só têm sentido se nos ajudam a ver o mundo melhor. Aprendemos palavras para melhorar os olhos.” Palavras são como ferramentas que são usadas para diversas finalidades. Ao usarmos palavras estamos comunicando algo a alguém, seja qual for a situação. Há alguns anos, um senhor me disse que “toda palavra pode ser dita a toda pessoa – dependendo da forma como é falada”. Isso é verdade, pois tal como um artista diante de uma pedra de diamante que precisa passar pelo processo de lapidação, assim também nossas palavras precisam ser moldadas para transmitir a paz, não a guerra, como tenho vivenciado em diversos momentos. Acontece que, muitas vezes, estamos acostumados à guerra, às lágrimas, a tal ponto que não zelamos mais por aquilo que dizemos. Simplesmente falamos, jogamos para cima do outro nossas insatisfações, sem nos importar com o impacto que nossas palavras podem causar a outra pessoa. Há, ainda, quem se utiliza dessa prática dizendo que assim faz porque é sincero, ou seja, sem cera, sem maquiagem. Muito mais que uma ferramenta, tais pessoas estão sob o risco de usar as palavras como armamentos que ferem não apenas o corpo, mas todo um sistema psicológico, virando as costas como se nada de tão grave tivesse acontecido. Assim como causadora de dores, a palavra pode trazer paz ao coração, como quando nos deliciamos em leituras que falam de paz, de amor e de segurança. Para aprender é preciso humildade. Humildade, como explica Max Gehringer, é uma virtude que as pessoas, na medida em que avançam na carreira, acabam abandonando pelo caminho.  No latim, o radical hum significa "da terra". Dele, viria a palavra "humano", já que, como ensina a Bíblia, Adão foi criado do barro. Do hum derivariam ainda "humilhar" -- que, numa luta, era "atirar o oponente ao solo" -- e também a "humildade", que é uma simples atitude: a de manter sempre os pés no chão. Depois de descalçar os preconceitos.

Professor Romério Gaspar Schrammel

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11/06/2012 16:13

NA SALA DE AULA COM KANDINSKY

Nascer em uma família em que a mãe simboliza o humano e o pai é a figura da moral e os dois uma poesia ética, já não é para qualquer mortal. Muitos devem estar sentindo um arrepio, pois sabem exatamente do que estou escrevendo.  Frequento as salas de aula, converso com os alunos e percebo que não sabem que a sala de aula é um espaço sagrado, onde você deve fazer aquilo: PENSAR. Olho para os alunos – não os sinto – vejo um quadro de Kandinsky. Wassily Kandinsky, pintor abstrato, russo, viveu em Murnau, no Estado da Baviera, Alemanha. Estive na casa onde morava. Fomos levados até lá por uma professora, seis graus negativos, 1987. Ela interpretava os quadros de Kandinsky – eu não. Aquelas pinturas não me diziam nada. Kandinsky era um gênio, da pintura. Hoje olho para aqueles quadros e sinto que insistem, querem interagir comigo. Meus olhos brilham, eles, os quadros, penetram no meu olhar. Entendi, os olhos são as janelas do mundo, diz Ruben Alves. Já posso conversar com a obra de Wassily Kandinsky - 25 anos depois. O tempo ensina. Volto a olhar para os alunos – parecem um quadro de Kandinsky, em 2012. Não temos 25 anos para compreendê-los. Os quadros aguardam ser compreendidos, os alunos não. Estudei em internato, sete anos, desde a 5ª série. Quando na 6ª série, em um belo domingo de manhã, lendo no banco próximo à secretaria, o diretor da escola passou por mim e elogiou-me, pois percebera meu crescimento, fruto da leitura. Nunca mais parei de ler. Ele, diretor, poderia estar olhando para um quadro de Kandinsky, mas seus olhos, janelas do mundo, viram um menino lendo. Cada aluno é um quadro abstracionista de Kandinsky que precisa ser decifrado para a aula fluir adequadamente. O aluno é um quadro pintado a mil mãos, para alguém que não lê, não pesquisa, não tem cede de conhecimento, não abre as janelas do  mundo, jamais conseguirá interpretar tal quadro. Fazer o aluno pensar, quando este ainda nada disso vivenciou em seu lar, é preciso começar pelas janelas do mundo: os olhos. Meus pais, mesmo morando lá no interior, perceberam logo cedo que seus filhos precisariam estudar para que fossem livres e ver o que muitos não veem. Muitas famílias são quadros de Kandinsky – Fuga, 1914, óleo sobre tela.

                                                                        *Professor Romério Gaspar Schrammel

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06/06/2012 08:50

A PERGUNTA

Em uma sala de aula, não há nada mais inquietante para um Professor do que um aluno que não pergunta. Ah, mas perguntar é difícil! É verdade! Aluno que não pergunta não é aluno. Diz um provérbio chinês “Aquele que pergunta é tolo por cinco minutos, mas o que não pergunta é tolo a vida inteira”. Nem todos descobrem esse segredo, escreve John Maxwell, o maior treinador de líderes da atualidade.

Três irmãos competiam em tudo. Eles deixaram a casa onde viviam em busca de fortuna, e os três foram bem-sucedidos. Um dia, quando estavam todos juntos, começaram a contar vantagem sobre os presentes que tinham acabado de dar à mãe, já idosa.

- Construí uma mansão para a mamãe – orgulhava o primeiro.

- Bem, eu comprei para ela uma Mercedes novinha com motorista e tudo – contou o segundo.

- Ganhei dos dois – exclamou o terceiro. Vocês sabem como a mamãe gosta de ler a Bíblia, mas não consegue enxergar direito. Por isso, mandei para ela um papagaio marron capaz de recitar a Bíblia inteira. Doze monges levaram doze anos para ensiná-lo. Tive de oferecer uma contribuição anual de 100 mil dólares ao monastério durante dez anos para que o treinassem, mas valeu a pena. Mamãe só precisa dizer o capítulo e o versículo, e o papagaio recita na hora.

Pouco tempo depois, cada um dos irmãos recebeu um bilhete da mãe. Ao primeiro filho, ela escreveu: “Carlos, a casa que você construiu para mim é muito grande. Vivo em apenas um aposento, mas preciso limpar a casa inteira.” Ao segundo filho, relatou: “Marcos, estou velha demais para sair de casa. Fico aqui o tempo todo, por isso nunca uso a Mercedes. Ale disso, o motorista é muito grosseiro!” A mensagem dirigida ao terceiro filho era mais gentil: “Querido Lucas, você é o único filho que teve o bom senso de escolher algo de que sua mãe gosta. O frango estava delicioso!”

Algumas pessoas precisam aprender, mesmo que à força, a importância de se fazer perguntas! A capacidade de perguntar geralmente distingue os bem-sucedidos dos demais. O motivo é simples: só obtemos respostas às perguntas que fazemos. Sem perguntas não há respostas. Como afirmou Bernard Baruch, “milhões de pessoas viram maçãs caindo, mas Newton foi o único que perguntou por quê?”

Com John Maxwell aprendi dez perguntas e as faço, pois elas me mantêm nos trilhos e promovem o crescimento pessoal: 1) Estou investindo em mim?(crescimento pessoal); 2) Estou sinceramente interessado em outras pessoas?(motivação); 3) Estou fazendo o que amo e amando o que faço?(paixão); 4) Estou investindo meu tempo com as pessoas certas?(relacionamento); 5) Permaneço na área em que sou mais forte?(eficácia); 6) Estou conduzindo outras pessoas a níveis mais elevados?(missão); 7) Estou cuidando bem do dia de hoje?(sucesso); 8) Estou parando para pensar no que faço?(estratégia); 9) Estou desenvolvendo lideranças?(legado); 10) Estou agradando a Deus?(fé)

Perguntar não é sinal de ignorância. É sinal de engajamento, de curiosidade, de desejo, de aprimoramento. As perguntas, no entanto, devem ser resultado de reflexão. Quem não pergunta, não avança.

                          Professor Romério Gaspar Schrammel

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31/05/2012 11:22

O INCONSCIENTE ADAPTÁVEL

O nosso inconsciente é muito poderoso, porém falível. Quando devemos confiar em nossos instintos e quando devemos nos precaver em relação às condições precipitadas? O fato é que, nos casos em que nossa capacidade de cognição rápida falha, ela falha em virtude de razões bastante específicas, e tais razões podem ser identificadas e analisadas. O poder de avaliar uma situação em questão de segundos, não é um dom divino reservado apenas a uns poucos eleitos. É uma habilidade que pode ser voluntariamente desenvolvida por cada um.

Sempre vi o pai como o empreendedor que se movia num mundo de incertezas para que aqueles que trabalhavam para ele e com ele acreditassem estar num mundo seguro. O mundo é, por definição, incerto. Ninguém pode garantir nada. “A felicidade requer que o futuro seja incerto”, escreveu Jorge Wagenberg. O pai, um batalhador, tinha tudo sob o seu controle quando a empresa era pequena. A pequena estrutura fez a empresa crescer, mas o pai e a estrutura não souberam crescer com ela. Os processos precisavam mudar, assim como o perfil de certas pessoas que ocupam cargos, inclusive as próprias funções das lideranças.

Os filhos cresceram, estudaram e foram assimilando outros conceitos e também outras experiências. O pai persistente, mas também resistente não dava lá muitos ouvidos às teorias dos folhos. Para o pai tudo era uma questão de conceitos, mas os filhos olhavam para os resultados. Os filhos atuavam lá com o pessoal “chão de fábrica”. Centralizador, o pai não permitia que melhorias germinassem de sugestões dos funcionários da linha de frente, bem como de gerentes e líderes. A premissa de Ken Mehlman era “O líder máximo precisa ser capaz de ser liderado a partir das bases”. As coisas não andavam bem. A avó, como o filho, acreditava que é preciso estar 24 horas dentro da empresa. O confortável é que a avó cobria débitos.

Alguns questionamentos começaram a incomodar o pai. Excesso de expectativa, a ideia de negócio, erros insignificantes que iam se transformando em verdadeiros problemas, ficar obcecado por uma ideia ruim, não aceitar as evidências, não modificar sua forma quando ainda era tempo, falta de humildade e flexibilidade para corrigir deixavam os filhos preocupados. O tempo passava e mais dificuldade teve o pai de entender como o racional e o emocional interagem no ambiente de trabalho. Ter uma força de trabalho emocionalmente comprometida não é vantagem, é uma necessidade. Fernando Trias de Bes escreveu que “os negócios não fracassam, as esperanças é que são derrotadas pela falta de disciplina, imaginação e flexibilidade para enfrentar imprevistos”.

O pai entrou em minha sala, abatido, pálido – isso não era normal, dialogar comigo. Sentou na poltrona, em frente a minha mesa. Atrapalhado fingia querer telefonar. Não trago boa notícia, disse ele. A avó faleceu, acrescentou, rápido. Temos agora dois planos, continuou ele. BLINK - foi nesta hora que tomei “a decisão num piscar de olhos” (de Malcolm Gladwell). Então vamos de Plano B, finalizou o pai.

Professor Romério Gaspar Schrammel

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28/05/2012 21:43

EDUCAÇÃO EM RECUPERAÇÃO

Mais de uma semana distante da divulgação do resultado do concurso do magistério, duas semanas distantes das notícias das aprovações no Ensino Médio a educação, enfim, flui normal no Estado. Normal para muitos, já nem tanto para alguns. Temos que encontrar a resposta adequada ou todos seremos reprovados, finalizava um editorial da ZH.

Respostas todos temos, faltam, no entanto, atitudes. Atitudes políticas, atitudes de empresários, atitudes dos pais, atitudes, acima de tudo, dos educadores, dos mestres que recebem tão significativo salário. Atitude é saber fazer acontecer. Educação não se resolve apertando parafuso ou com vacina. Educação é criar projetos com resultados a médio e longo prazos. Educação requer investimento, disciplina e muito trabalho. Investir em provas para qualificar educação, como se tem feito, é chantagear o professor – porque o aluno precisa estudar. Sem estudo não tem emprego e sem emprego não tem salário – um salário de R$ 750,00? 

Como convencer um aluno a estudar, se familiares, amigos e “professores” vendem muamba do Paraguai ganhando muito mais do que o Professor. Uma sociedade sem normas não tem seu referencial no educador. Não temos o direito de ficar perplexos com resultados da educação quando tem mesmo os analfabetos e semianalfabetos podem ser candidato. Os 92,5% de professores reprovados não deveriam poder exercer a profissão, não foram, enfim, aprovados, mas podem ser candidatos a qualquer cargo político – inclusive ao de presidência da república. Isso é coerente? Talvez sim.

Muitos dos reprovados já estão, faz anos, em sala de aula. Já auxiliaram, em muito, para os atuais resultados do ensino. Onde está a causa? Como esperar por mudanças? Se é que as queremos. Contratar professores não é melhor para o Estado e prefeituras? Não é melhor também para o professor? Quem perde é a qualidade. Como podem profissionais ser contratados para uma atividade tão estratégica como a educação sem que se saiba se realmente têm habilidades e competências para a função. Como educador, não entendo tal possibilidade.  Afirmo com muita tranquilidade que a educação está muito pior do que os sacros resultados vêm revelando.

Elaborar uma prova para os nossos políticos responderem – eis a questão. O resultado mostrará para onde estamos indo. As autoridades políticas, também vereadores, deputados (estaduais e federais) e senadores são a luz, ou não, do túnel da educação. Os políticos têm, sempre, optado por alternativas fáceis, cujos resultados, a médio e longo prazos, só trazem frustração. Já em curto prazo trazem vantagens pessoais. Conceder cotas é um exemplo. Concedê-las para corrigir um erro do passado é piada, é continuar penalizando.

Levantes tímidos têm-se ouvido de alguns setores – curiosamente não de sindicatos e educandários. Um país só consegue mudar seu nível de desenvolvimento econômico e social priorizando a educação. Por que empregadores não clamam por profissionais mais qualificados, por uma melhor educação? Como podem mais de sessenta mil candidatos qualificados, com nível superior, participar de um concurso que paga como salário R$750,00?

                                                                           Professor Romério Gaspar Schrammel

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15/05/2012 22:12

ATIVO INADIMPLENTE

Sete de maio, o dia do silêncio. Silêncio: um estranho jeito de ser das pessoas, dos cidadãos de bem. Em programa de televisão, o deputado Tiririca foi perguntado, pergunta de criança, qual o resultado de vinte e um dividido por três. A resposta foi: “perguntaram para a pessoa errada”. A quem pode ser feita tal pergunta? Não faz sentido perguntar para uma criança menor de nove anos, talvez. Não faz sentido fazê-la também a um deputado. Não é que ele não sabia a resposta. É que a pergunta foi ridícula para um tão nobre deputado, concluo. Eu aceito a resposta, calado, e procuro um contexto para adequá-la. Afinal ele foi aprovado para ser deputado. Pode alguém desempenhar função tão importante sem ter feito a prova do ENEM? Existe alguma cota para políticos analfabetos ou semianalfabetos?

A história de Hans Cristian Anderson veio-me à mente. Um rei egocêntrico gostava de vestir-se com o que havia de mais moderno. Dois mágicos apresentaram-se oferecendo vestes que só eram visíveis pelos inteligentes – os burros não as enxergavam. O rei gostou e comprou, pediu ao ministro da educação para ver como estavam ficando as vestes. Este foi e nada viu do tecido, mas como não queria ser chamado de burro, disse que as vestes estavam maravilhosas. O mesmo se sucedeu com vários ministros – ninguém viu, mas todos queriam ser inteligentes. O rei recebeu as vestes para o desfile. Estranho, pois nada viu, mas como os ministros já haviam afirmado de que elas eram lindas, não quis fazer feio e nem ser burro, vestiu-as. Desfilou com elas - visíveis apenas pelos inteligentes. O rei desfilou. O povo admirou – ninguém queria ser burro. Havia, no entanto, em uma árvore, um menino que não entendia da política e gritou: o rei está nu. Todos começaram a rir. Este menino, nos dias de hoje, não tem a mínima chance de gritar.

Ser inteligente é uma questão de atitude: calar-se. Calar-se é dar espaço ao Cachoeira e Demóstenes, aos Tiriricas, é dar espaço à corrupção, à violência, é também dar espaço ao tráfico. Fingir ver as vestes mágicas do rei é ver diminuir o espaço dos cidadãos de bem, é viver em um espaço diminuto e ainda assim, um espaço do medo. O rei está nu, estão vendo, mas não querem se incomodar. Estranho hábito.

A democracia exige que o povo governe. Ela vive do diálogo, da crítica, do ouvir e do ser ouvido. Vivemos, hoje, uma ditadura mascarada. Dizer que o rei está nu pode ter consequências desastrosas. A ditadura mascarada inibe a reflexão. A reflexão é o sangue da democracia. Em diversos espaços sociais: na família, na escola, nas empresas, em repartições públicas... mascara-se a democracia.

Acreditamos estar fazendo o melhor. O cidadão brasileiro é ativo, mas seriamente inadimplente como cidadão democrático – não cumpre deveres e não exige direitos. Somos trabalhadores ativos, mas democratas inadimplentes.

Sonho com uma escola cujos profissionais sejam qualificados; sonho com uma sociedade cuja escola valoriza o conhecimento e a disciplina. Sonho com aluno que sabe por que estuda. Perguntar é o caminho e o caminho começa na família que compreende a importância da escola.

                                                                            Professor Romério Gaspar SchrammEL

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11/05/2012 22:30

A MÃE

Tenho muito presente um belo hábito de meus pais: a hora do mate da manhã. Todos os dias meus pais tomavam mate pela manhã. A hora era cedo, pelas 5h, antes da ordenha. Era um momento impar. Neste momento meus pais conversavam, projetavam, planejavam... Ouvia, eles na cozinha e eu na cama, quentinha, quase cochichando, para não nos acordar. Nunca consegui entender como casais não se entendiam, nunca compreendi que mulheres não tinham os mesmos direitos. Na minha casa, a mãe sempre foi o cabeça, o pai, a força. Este exemplo foi-nos passado pelos pais. Eles se completavam. Foi na hora do mate que decidiram que os filhos precisavam estudar. Foi depois do mate que o pai me acompanhou à casa do vizinho para me levar para o internato. Os meus pais planejavam, eles conversavam. Minha mãe sempre teve a habilidade de consertar pelas palavras. Os filhos herdaram isso.

Outro dia li um artigo sobre a Lei de Pareto, também conhecida como o Princípio 80-20. Segundo este princípio 80% das consequências são resultados de 20% das causas. A Lei de Pareto diz-nos coisas elementares da rotina do dia a dia como: 80% das vezes você usa 20% de suas roupas; 80% da participação na aula é creditada a 20% dos alunos; 80% dos problemas são causados por 20% dos funcionários; 80% de todas as decisões podem ser tomadas com 20% da informação disponível... Significa também que 20% de minhas atividades eram dezesseis vezes mais produtivas do que os 80% restantes.  Se eu quisesse reduzir a complexidade de minha vida e aumentar a produtividade, então precisaria focar no melhor, que estava incluído nos 20%. Dei-me, portanto, conta de que fazia muita coisa sem necessidade e fazia muita coisa que não eram minha função.

Trabalhar na rotina. Todos os dias, todas as semanas e todos os meses as mesmas reuniões As reuniões com as mesmas rotinas. Todos concordando com uns e uns pregando para todos. A rotina torna os participantes cansados, já não ouvem, já não dizem. A reunião – reúne, mas não decide. 80% do tempo ocupado por reuniões cujas decisões poderiam ser resolvidas em 20% do tempo.

Sei que preciso priorizar. Por diversas vezes sugeri mudanças, mas ordenam-me entrar na fila. A fila inquieta, é rotina e rotina acomoda. É preciso espaço para descarregar ideias. Lembro-me das conversas de meus pais. Eles, sem ter frequentado universidades, nem terminado a escoa básica, conheciam os princípios de uma organização.

Quanto do seu dia é rotina? 20 ou 80%? Quanto do seu mês é rotina? É preciso avaliar como estamos investindo nosso tempo. Quando estamos no início da carreira, a pergunta mais fácil de responder é aquela que diz repeito às exigências. A maioria só começa a compreender de fato o que proporciona maior retorno ao esforço empreendido depois que chega na casa dos trinta  anos – às vezes mais tarde na vida.  Conforme continuo me desenvolvendo, descubro que o propósito de todo trabalho é gerar resultados. Se eu quero de fato cumprir meus objetivos e tornar-me uma pessoa produtiva, preciso trabalhar com previsões, estrutura, sistemas, planejamento, inteligência e um propósito sincero. Preciso também manter a simplicidade das coisas. Descubro então o quanto o papel desempenhado, pela minha MÃE, em nossa família é importante. Minha eterna mestra do saber ouvir, dialogar, aconselhar... sábia mãe.

                                                                                      Prof. Romério Gaspar Schrammel

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07/05/2012 22:13

EDUCAÇÃO PRECISA DE ESCOLA

O problema não é o que fazer: é como falar a respeito do que precisa ser feito. Quem afirma ser o sistema falho ou enxerga manobras misteriosas por trás de cada equívoco, pouco tem a ensinar. Mas a disposição de discordar, rejeitar e dissentir é o sangue vital a uma sociedade aberta. Precisamos de pessoas que façam da oposição ao pensamento consagrado uma virtude. Uma democracia do consenso permanente não dura muito como democracia.

O conformismo é tentador. A vida comunitária parece bem mais fácil quando todos concordam com todos, onde a discordância é atenuada pelas convenções da acomodação. Sociedades e comunidades onde a discordância inexiste ou se decompôs não apresentam um bom desempenho. Há um preço a pagar pelo conformismo. Um círculo fechado de opiniões ou ideias no qual o descontentamento ou a oposição jamais são permitidos – ou aceitos apenas dentro de limites predeterminados e artificiais – perde sua capacidade de reagir a novos desafios com energia ou imaginação.

Pode este conformismo estar no jeito de ser da escola? Pode este conformismo estar na figura do professor? Uma escola que, por força de uma visão política, cada vez mais prepara seus alunos para a mão de obra e não para que sejam cidadãos éticos, pensantes, acaba por formar cidadãos conservadores.

A escola é complicada demais para ser um espaço de reflexão: ouvir e ser ouvido. Ouvir é um exercício de respeito, de valorizar. Ser ouvido é um espaço de partilhar, de contribuir.  A escola na qual você ouve e é ouvido é um espaço de crescimento individual e coletivo. Qual professor, trabalhando o número de horas e pelas leituras que o tempo lhe permite fazer, consegue propiciar tal espaço? A escola pública (federal, estadual e municipal) e a escola privada atendem, praticamente com a mesma proposta, a públicos diferenciados, dos mais humildes e desamparados à elite. A estabilidade da pública gera instabilidade e a instabilidade da privada é seu jeito engessado de ser e a futura falta de alunos. No mundo do mercado as escolas públicas e privadas se digladiam acreditando em algo que pode não ser.

Enfim, a quem cabe dar o grito pela mudança, pela valorização, senão ao professor. Não haverá mudança, sem um mínimo de sacrifício. Mudanças são, muitas vezes, dolorosas, e sacrifício é deixar de fazer uma coisa boa por alguma coisa melhor no futuro. O professor é o indivíduo que personifica a orientação ética de seu trabalho. Uma pergunta não deve calar a tarefa do mestre. Qual é a nossa responsabilidade na construção desse mundo? Como afirma Howard Gardner “creio que a educação formal nos dias de hoje ainda prepara os alunos principalmente para o mundo do passado, em lugar dos mundos possíveis do futuro”. Continua Gardner “A maioria dos alunos, incluindo os que frequentam nossas melhores escolas e recebem as notas mais altas, não conseguem explicar o fenômeno sobre o qual estão sendo questionados. Muitos deles dão exatamente a mesma resposta que nunca cursaram disciplinas relacionadas ao tema e supostamente nunca tiveram contato com os conceitos relacionados a uma explicação adequada. Esses alunos podem ter acumulado muito conhecimento factual ou temático, mas não aprenderam a pensar de maneira disciplinada.” Que os estudantes encontrem um motivo para estar na sala de aula, aprendendo para a sua época, através da educação, e tenham no professor o seu modelo fundamental.

Prof. Romério Gaspar Schrammel

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