EM BUSCA DA ESCOLA
A palavra ESCOLA tem origem no grego scholé (“tempo livre” ou “atividade séria sem a pressão da necessidade”). Na Grécia Antiga, a escola era um luxo proporcionado a filhos de comerciantes ricos, para que pudessem ler, contemplar e deleitar-se no conhecimento de diversas disciplinas. Como observou Aristóteles, a escola é “ausência de necessidade de estar ocupado”. Não é “estar sem trabalho”, é “ter tempo para pensar”. Um luxo no mundo acelerado de hoje. Precisamos de tempo para pensar sobre o desafio de amanhã, ou seja, desaprender aquilo que funcionava ontem, sob pena de perder o futuro.
Quem não consegue resolver problemas ou criar novas idéias, em geral, está preso à sua maneira de perceber e definir problemas. Já li que há duas formas de se desviar de limites: mudar a forma de resolver o problema ou mudar a forma de ver o problema. Não conseguimos criar quando estamos cegos para algumas coisas, mas se você aceitar informações aparentemente irrelevantes como possivelmente úteis, você pode conseguir resolver problemas com mais frequência e ter momentos-ahá mais deliberadamente.
Mestres educadores, Isac Newton tinha 23 anos quando a força universal da gravidade apareceu em sua mente. Albert Einstein tinha 28 quando teve sua famosa “experiência de pensamento” e Bill Gates estava com 26 quando licenciou o sistema operacional QDOS à IBM. Jovens sempre criam o futuro. E em parte por sua inexperiência. Corro um sério risco, eu e outros tantos, pois a experiência produz convenções, e apesar de convenções poderem produzir sucesso, também podem atrapalhar nossa próxima grande ideia. À medida que envelhecemos ou ganhamos mais experiência em determinado assunto, convenções tornam-se mais difíceis de quebrar. Convenções criam limites artificiais em nossa mente – e ficamos quadrados. Se aprendermos a identificar, questionar, torcer, virar pelo avesso e, portanto, reconstruir esse quadrado, poderemos criar condições para pensamentos mais criativos. Uma das maneiras de questionar as convenções é aprender a pensar em posições opostas ao mesmo tempo. O filósofo pré-socrático Heráclito disse que toda mudança vem por contradições: vir a ser. Aristóteles anunciou, contra Heráclito, sua “lei da não-contradição”. Já Sócrates usou a ideia de Heráclito no famoso método socrático, o de ensinar questionanado.
Precisamos mestres leitores: leitores de livros e leitores da realidade - preparar-nos para a formação de um aluno questionador. Pelo que hoje vivenciamos: violência, corrupção, políticos omissos, são, entre outros, frutos de uma escola que castra a criatividade e educa exclusivamente para viver com normas do mercado. É preciso olhar as coisas sob perspectivas diferentes. Por quê? Porque as nossas verdades muitas vezes não permitem enxergar possibilidades.
Que as nossas escolas possam ser uma scholé, na qual possamos exercer nossa atividade de forma séria sem a pressão da necessidade. E os mestres deixem de ocupar seus alunos, preparando-os para provas, mas façam pensar. Como diz Aristóteles, a escola é “ausência de necessidade de estar ocupado”, mas não podemos deixar de “ter tempo para pensar”.
Professor Romério Gaspar Schrammel